Moeda digital ganha força no setor imobiliário

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O uso de criptomoedas na compra deimóveis tem crescido no país. Empreiteiras como a paulista Tecnisa, a mineira Katz e a paranaense Valor Real são algumas que já aceitam bitcoins como forma de pagamento.

A Tecnisa foi a pioneira na transação em criptomoedas no Brasil, em 2014. Por três anos, contudo, nenhum imóvel foi comprado usando as moedas digitais. “Na época conseguimos ganhar visibilidade, mas não vendemos nenhuma unidade”, conta Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa.

O cenário começou a mudar no fim do ano passado. Em 2017, o bitcoin chegou a atingir valorização de 1.751%. Hoje, vale aproximadamente R$ 28 mil.

Um apartamento de cerca de R$ 280 mil, por exemplo, custaria o equivalente a “apenas” 9,82 bitcoins. Foi esse o preço em reais do apartamento mais barato vendido pela Tecnisa em criptomoedas.

“De novembro do ano passado até agora, vendemos 16 apartamentos dessa forma”, diz Busarello. “As pessoas que ganharam dinheiro com a valorização do bitcoin querem dar liquidez ao investimento.”

 

A construtora Valor Real aceita o bitcoin desde setembro do ano passado. De lá para cá, vendeu seis apartamentos com o uso do dinheiro digital. Nenhum deles foi quitado inteiramente com criptomoedas. Em geral, elas são destinadas à entrada.

Alexandre Lafer, coordenador do grupo de novos empreendedores do Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário), aposta no crescimento do uso da moeda no setor.

“Arriscaria a dizer que nos próximos cinco anos teremos um volume bastante expressivo de transações imobiliárias utilizando a tecnologia de blockchain”, afirma.

O blockchain funciona como uma espécie de livro-caixa digital descentralizado e compartilhado entre diversos usuários. Ele é a base da moeda digital bitcoin e proporciona maior segurança e agilidade em transações digitais.

“A proposta é digitalizar o ativo. O apartamento ganha uma espécie de escritura digital, um algoritmo inviolável que faz com que ele possa ser transacionado de maneira livre. Isso dará maior abrangência e agilidade ao mercado”, afirma Lafer.

A construtora Katz é outra que aposta no bitcoin, mesmo sem ter feito nenhuma venda desde que passou a aceitar a moeda digital, em dezembro.

“Se você puxar pela memória, vai se lembrar que o cartão de crédito era inacessível por aqui há 20 anos”, compara Athos Martins, diretor de incorporação da empresa.

Fernando Ulrich, economista-chefe de criptomoedas da XP Investimentos, faz ressalvas ao uso da moeda digital para compra de imóveis.

Ele afirma que o risco de desvalorização pode não compensar. Por isso, o economista recomenda o meio de pagamento apenas para quem já tem os criptoativos e pode fazer a transação diretamente com a construtora.

De fato, as empresas que já aceitam criptomoedas costumam transformá-las de volta em reais rapidamente.

“Nosso viés não é especulativo, para nós as criptomoedas são exclusivamente um meio de pagamento”, diz Antonio Lage, presidente-executivo da Valor Real.

“Não podemos aceitar qualquer criptomoeda. Você não pode pegar uma que vai ter uma oscilação de 20% em 15 minutos”, afirma o executivo.